De algum tempo pra cá vem surgindo uma onda de pessoas motivadas a seguir uma vocação com a intenção de trabalhar feliz fazendo aquilo que ama. Esta onda é guiada por gurus do empreendedorismo que atuam como verdadeiros pastores de igrejas, com fundamentações baseadas na fé de que algo dentro de você mesmo possa te levar ao verdadeiro sucesso. No entanto, a vocação é para poucos, e podemos incorrer no erro de passarmos a vida toda procurando pela tal realização profissional sem nos darmos conta de que, na verdade, ela não existe. Então, ocorre da maioria daquelas pessoas que saem em busca de tal chamado interior se sentirem extremamente frustradas por não encontrarem uma definição sobre a própria vocação. Um hábito muito comum é sair em busca de algo em si mesmo, que deveria ser nato e visível. Estando pois sob este pensamento, submetemo-nos ao risco de confundir um hobby ou um talento, com vocação profissional.
O talento pode ser considerado algo como uma capacidade de realizar determinada função com uma competência acima da média, mas nem sempre se trata de uma vocação. Para citar um exemplo desses podemos lembrar uma das cantoras mais talentosas que o mundo já conheceu, Amy winehouse. A bela e jovem Amy alcançou o sucesso mundial aos vinte e poucos anos de idade devido a sua extrema competência artística, mas, não estava preparada para exercer o seu talento como uma profissão. Então, apesar de sua competência, ela não alcançou a realização profissional, pois não exerceu a função de cantora com prazer e satisfação.
Já a vocação é como um chamado impossível de não se corresponder. Uma necessidade incessante de poder exercer determinada função por puro amor. Assim como no caso de grandes empreendedores como Steve Jobs, famoso por exercer a função de comandar uma equipe de engenheiros até o ponto de não se alimentar ou tomar banho por dias, e ainda se sentir plenamente satisfeito dormindo no chão. Seus funcionários eram exigidos ao extremo, e quase não suportavam tamanha pressão, pois que para eles, o trabalho era mais difícil. As exigências abusivas de Jobs para com seus funcionários partia do ponto de vista dele mesmo sobre o trabalho, que no caso, era uma atividade prazerosa. Podemos dizer então que, os funcionários de Steve Jobs podiam ser dotados de muito talento, mas não tinham vocação.
Para pessoas talentosas, o ambiente de trabalho necessita ser agradável, com colegas amigáveis, bons utensílios ou equipamentos, alimentação de qualidade, remuneração adequada, e toda uma estrutura que lhes forneça algum suporte para o exercício da função. Este modo é, portanto, a única maneira, de tal funcionário se sentir satisfeito no trabalho.
A palavra trabalho vem do latim “tripalium”, que era o nome dado a uma máquina de tortura da antiguidade, ou seja, é associada a um esforço terrível. De fato, trabalhamos porque necessitamos não porque gostamos ou sentimos prazer nisso. E não é um erro reconhecer tal sensação em nós mesmos, nem vergonhoso, a maioria das pessoas se reconhecem assim.
Então, a partir de tão sinceras observações, termino este artigo com desejos de que a nossa necessidade de realização profissional não seja maior do que a nossa satisfação no trabalho, e que não nos frustremos ou nos deprimamos por não sentirmos em nós mesmos uma vocação.